segunda-feira, 15 de abril de 2013

Transplante de medula

Eu deixei de postar muita coisa durante um período pela dificuldade de rede. Acabava que eu escrevia e não conseguia upar fotos nem vídeos e não postava nada, mas acho que preciso encerrar este tópico revendo estas postagens que ficaram aqui como rascunhos.
Este post era para ser sobre a coleta da medula para o transplante, então vamos a ela, mas primeiro um histórico de como cheguei até aqui.

Em janeiro de 2011 tirei 10 dias de férias, num momento de transição de governo, no mínimo inquietante para quem trabalha na área. Ao chegar na Bahia, percebi um inchaço no meu pescoço e algumas massas que inicialmente associei ao que estava sentindo - o cansaço, o estresse, o carregar de malas. Mas este sintoma foi persistente. Já há algum tempo eu tinha uma coceira no corpo todo e grande dificuldade para dormir, ficava acordando a noite toda, mas nada disso tinha sido combinado para se entender que a causa era uma só.
Voltando de viagem, fui procurando meus médicos que me mandavam fazer exames e para outros médicos, que faziam mais exames e não me davam qualquer resposta. Após uma série de "isso não é" interminável e de muitas noites sem dormir e ainda um cansaço absurdo que me levava a "dar uma encostadinha" em qualquer lugar, finalmente resolveram por fazer uma biópsia de um dos nódulos em meu pescoço. Só pra ser didática os meus sintomas na época eram:
- Dificuldades de sono
- Coceiras
- Inchaço em gânglios
- Febre ao fim do dia
- Perda de peso
- Uma fadiga sem fim

Nesse processo eu havia biopsiado a tireoide e os nódulos por punção, mas nesse caso fui orientada a realizar uma biópsia excisional, ou seja, retirar um nódulo inteiro para investigar. Ao realizar este exame eu fui confirmada que estava com Linfoma de Hodgkin.
Depois disso, já sob orientação do meu hemato-oncologista Dr Gustavo Bettarello, realizei um PET SCAN (ou tomografia com emissão de pósitrons) para se saber a extensão do quadro.
Pois bem, tinha doença no pescoço, virilha, axila, e no tórax, em alguns órgãos.
Enquanto aguardávamos o resultado do pet, já iniciamos o protocolo de quimioterapia.
O que é o protocolo? É um guia do que fazer, qual medicação tomar, em que dosagem e tempo, testada cientificamente.
O Dr Gustavo sempre me explicou o tratamento a partir de pesquisas, mostrando as possibilidades disponíveis e as razões para as opções dele. Passei então a tomar um coquetel de medicamentos, de quinze em quinze dias, durante oito meses. Cada duas aplicações correspondiam a um ciclo, portanto passei por oito ciclos.
Neste meio tempo, recebi orientações de como me proteger de doenças e de como enfrentar o tratamento minimizando os efeitos colaterais. Caxias como sou, segui tudo à risca e fui descobrindo o que funcionava melhor pra mim.
Por exemplo, descobri que picolé de limão da Kibom é ótimo para o enjôo pós quimio. E sim, só pode ser esta marca que é menos doce que as demais. Afastada do trabalho, mantive uma certa independência indo e vindo com meu carro, sempre que possível dirigindo.
Claro que não quero que ninguém entenda isso como um guia de tratamento, até por isso suprimo os nomes de medicações e algumas outras coisas, que cada um com seu médico deve resolver. Estou apenas descrevendo como foi o meu tratamento.
O protocolo indicava a execução de 3 pets durante este processo de 8 ciclos. Um no início, um no meio e um após o 8º ciclo, já sem a medicação por algum tempo. O primeiro verifica como está para realizar o tratamento, o segundo se está funcionando e o terceiro se funcionou. Se houver funcionado, o paciente é encaminhado para a radioterapia para um reforço nas áreas onde a doença se manifestou com mais ênfase.
No meu caso, o segundo pet mostrou uma evolução ótima, mas o terceiro nos decepcionou. Os gânglios haviam retomado o crescimento e precisamos partir para um segundo protocolo de tratamento.
Realizada mais uma biópsia para confirmar o quadro, passei a tomar outro coquetel de medicações já com a intenção de realizar um transplante de medula.
No que consiste o transplante de medula? Bem, ao contrário do que imagina-se o transplante é uma transfusão de sangue com uma seleção específica de células-mãe, após uma massiva dose de quimioterapia que faz sua medula parar de funcionar normalmente. Essa transfusão pode ser feita com o sangue da própria pessoa, sendo chamado de transplante autólogo, ou com sangue de outra pessoa (normalmente alguém da família ou encontrado em bancos de medula).
No meu caso foi indicado um transplante autólogo. Ou seja, eu doei para mim mesma. Para fazer isso minha medula (aquela gelatina que tem dentro dos ossos e que produz o sangue) precisaria estar saudável. Ufa, estava. Então foi feita a coleta da medula.
Tomei medicações para estimular a produção de células mãe e quando estava com estas células numa contagem boa, fui internada e implantaram um cateter especial para este procedimento. Não sei se dá pra ver nas fotos, mas tinha 2 canos, um que saia o sangue e outro que retornava, após passar por uma máquina de filtragem que separava apenas as células necessárias. Quem conhece diz que é bem parecido com uma hemodiálise. Eu nunca vi uma hemodiálise então essa referência não significa nada pra mim.
O processo de coleta dura o tempo necessário para ter um número de células adequado para o transplante. No meu caso foram duas sessões, ou dois dias de coleta. Depois disso casa.
Ai então que começa a quimioterapia do segundo protocolo. Culminando com uma última bem forte, que requer uma hidratação intensa e por isso recomenda-se fazer internada no hospital.
Bah, o Dr Gustavo foi avaliando cada etapa e optamos por ir para o hospital somente após este tempo (quanto menos tempo internado menos risco de contaminação).
Então, 4 meses depois de coletar minha medula, ela foi morta para ser ressuscitada com a infusão das células coletadas. É isso mesmo. A quimioterapia praticamente mata a medula e as células-mãe vão lá dentro do osso, recuperar a habilidade de trabalhar.
O tempo de internação para esta parte do tratamento é de aproximadamente 15 dias, se não houver intercorrências e se a medula "pegar" logo. Foi isso que aconteceu comigo (ou quase, pois tive febre 2 dias).
Depois disso, o sistema imunológico está restartado, ou seja, equivale ao de um bebê recém-nascido que não mama no peito (portanto não recebe os anticorpos da mãe). Por isso, o paciente fica extremamente suscetível a doenças como pneumonias. Como de praxe, segui as orientações e me mantive sem intercorrências nesse período.
Hoje estou no 8º mês após o transplante e sigo realizando consultas de rotina mês a mês e exames de acompanhamento, para garantir que não houve recidiva, ou seja, que a doença tenha voltado.
Meu médico no momento não fala em cura, mas em remissão. Ou seja, estou sem a doença, mas ainda temos que ficar de olho.
Já comecei a tomar as vacinas e retomei o trabalho e a vida normal. Ah, também perdi o peso que adquiri com o tratamento, que deixou a mim e a alguns colegas bolinhas em função das medicações que tomamos.
Então, dou por encerrado o tópico tratamento do linfoma, ainda que temporariamente (se acontecer algo diferente ou interessante eu volto a postar sobre o assunto).
E bola pra frente!!!!


Atualização: Olha a notícia sobre outra forma de transplante... http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/04/1265168-bebe-gerada-apos-selecao-genetica-doa-medula-a-irma.shtml





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